Apesar do cancelamento da 15ª edição, ambientalistas que defendem Serra da Moeda continuam articulando ações junto às esferas de poder público em prol da defesa das águas subterrâneas do aquífero montanhoso

Pelo terceiro ano consecutivo o tradicional ‘Abrace a Serra da Moeda’, realizado sempre no feriado de 21 de abril pela ONG homônima, que atua em defesa dos recursos hídricos de uma das regiões mais importantes de Minas Gerais, será cancelado. Como o evento precisa ser planejado com vários meses de antecedência e no início deste ano não havia perspectiva de arrefecimento da pandemia e da liberação dos espaços públicos para grandes encontros, devido à disseminação da variante ômicron da Covid-19, os ambientalistas optaram por suspender a edição que seria a de número 15.

Outro motivo que acarretou no cancelamento do abraço simbólico foi a interrupção da Avenida Nair Martins Drumond, em Piedade do Paraopeba, distrito de Brumadinho, devido ao deslize de uma encosta da Serra da Moeda ocasionado pelas fortes chuvas de janeiro, o que coloca em risco o trânsito de veículos e pessoas pela estrada de acesso ao Topo do Mundo, onde os protestos da ONG são realizados anualmente.

Reinvindicações continuam

Apesar do cancelamento do Abrace a Serra da Moeda, os ambientalistas que defendem a região continuam articulando ações junto às esferas de poder público em prol da defesa das águas subterrâneas do aquífero montanhoso. O tema, inclusive, ganha destaque nos canais digitais da ONG este ano. Oobjetivo é ressaltar o valor desses mananciais e os riscos em relação à possível perda de tais fontes de abastecimento.

Presidente da ONG Abrace a Serra da Moeda, o ambientalista Enio Araújo afirma que, atualmente, o maior desafio na região é conter o avanço predatório das grandes empresas, cuja atuação negligente vem rebaixando o lençol freático que abastece várias nascentes. “A água da chuva que cair hoje levará de 50 a 100 anos para abastecer os aquíferos. Caso os bombeamentos sejam maiores do que o potencial de recarga [dos aquíferos], as nascentes tendem a desaparecer”, destaca acrescentando que os aquíferos são responsáveis pela manutenção dos rios e córregos nos períodos secos.

Um dos megaempreendimentos que vem contribuindo de forma nociva para o meio ambiente na Serra da Moeda é o CSUL Lagoa dos Ingleses. Projetado para mais de 120 mil pessoas, em área de 27 milhões de metros quadrados, em torno do Alphaville, condomínio nobre de Nova Lima, o CSUL terá demanda de mais de 2.300.000 m3 de água por mês a ser retirada do aquífero Cauê, contido no Sinclinal Moeda, o que pode colocar em risco o abastecimento para todos os municípios da Grande Belo Horizonte. “A região onde o CSul vai se instalar é conhecida por ser um dos mais importantes mananciais de abastecimento da região metropolitana [de Belo Horizonte], sendo a Serra da Moeda um divisor de águas entre as bacias dos rios das Velhas e Paraopeba. Mesmo sabendo disso, os responsáveis por este megaempreendimento estão levando adiante um faraônico projeto imobiliário, cujos estudos hidrogeológicos não são conclusivos acerca da viabilidade hídrica”, alerta Araújo.

Colega de Enio, o também membro da ONG, Cléverson Vidigal ressalta, inclusive, que os empreendedores por trás do projeto vêm encontrando brechas na legislação para conseguir as licenças de instalação e operação concomitante, conforme DN 2017/2017. As obras do CSUL estão previstas para serem implantadas em quatro fases, com término estimado até 2065. 

Coca-Cola

Outro empreendimento que, segundo os ambientalistas da Abrace a Serra vem reduzindo drasticamente a vazão de nascentes da região e comprometendo o lençol freático, é a fábrica de refrigerantes da Coca-Cola FEMSA, instalada em Itabirito, às margens da BR-040, em meados de 2015. 

Com capacidade para produzir 2,1 bilhões de litros por ano, o que equivale a uma capacidade de produção de 175 milhões litros/mês, a multinacional extrai mensalmente mais de 173.000m³ de água dos mananciais subterrâneos da Serra apenas para atender a demanda de seus poços, situados a poucas centenas de metros de aquíferos que atendem milhares de pessoas em Brumadinho. Com isso, algumas comunidades locais passaram a enfrentar uma situação de desabastecimento e escassez hídrica que se arrasta por sete anos.

Para contornar o problema a ONG já apresentou à direção da Coca-Cola, alternativas locacionais para o abastecimento dos poços que operam na fábrica. No entanto, até hoje a tradicional empresa de refrigerantes se nega a estudar o assunto.

Mineradoras

Ainda de acordo com Cléverson, agindo sob a conivência do Estado, mineradoras instaladas no Sinclinal Moeda também vêm rebaixando sistematicamente o lençol freático. Isso porque, para extraírem o minério, as empresas têm que bombear a água que se encontra misturada ao minério. “No final de 2021, por exemplo, o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM) emitiu autorização para a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) rebaixar 3.130 m²/hora, o que seria suficiente para abastecer diariamente uma cidade de 375 mil pessoas. Dessa forma, fatalmente as nascentes responsáveis pelo abastecimento de Congonhas serão comprometidas”, alerta destacando que o rio Paraopeba, drasticamente atingido pelo desastre da Vale, em 2019, em Brumadinho, também depende dessas águas para sua recuperação.

Poços clandestinos também preocupam

Cléverson pontua ainda que a atuação de poços clandestinos também entra na lista de problemas ambientais da Serra da Moeda. “Nem o próprio IGAM tem controle sobre eles. Com isso não sabemos, sequer, qual real impacto vem causando nas nascentes, em razão do bombeamento dos aquíferos”, destaca.

O desastre provocado pela Vale, em janeiro de 2019, em Brumadinho, é outro assunto nas discussões que continuam sendo pautadas pela Abrace a Serra da Moeda. Desde que a lama de rejeitos da mineradora varreu vilarejos do município, poços artesianos, localizados às margens do Rio Paraopeba, acabaram sendo afetados, o que culminou no desabastecimento de comunidades, que, desde então, passaram a ser atendidas por caminhões-pipa, fornecidos pela multinacional, em função da contaminação do lençol freático que alimenta esses poços.

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