Percentual de mulheres acima de 18 anos, em BH, com IMC maior ou igual a 25kg/m², condição que caracteriza excesso de peso, é de 58,73%; dados são da última pesquisa Vigitel, do Ministério da Saúde
Neste mês dedicado às mulheres e, obviamente, também à saúde delas, um importante alerta: Belo Horizonte é a quinta capital do país com maior índice de sobrepeso feminino. Segundo dados da última pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), realizada em 2021 pelo Ministério da Saúde, o percentual de mulheres acima de 18 anos, na capital mineira, com Índice de Massa Corpórea (IMC) entre 25 e 29,9kg/m², condição que caracteriza o excesso de peso, é de 58,73%. Manaus (AM) lidera o ranking com 61,83%. Porto Velho (61,02%) e Belém (60,99%), também capitais do Norte do Brasil, aparecem na segunda e terceira colocação, respectivamente. Já o quarto lugar fica com Porto Alegre (RS), cujo sobrepeso na população feminina adulta é de 60,36%.
Nutróloga do Hospital Semper, a médica Yallana Arruda explica que apesar de o sobrepeso ser distinto de obesidade (a obesidade é diagnosticada quando o indivíduo apresenta IMC maior ou igual a 30kg/m²), ele já é um sinal de alerta. “Todos os obesos já tiveram sobrepeso algum dia. Já nessa fase [de sobrepeso], o corpo começa a passar por mudanças metabólicas que vão impactar negativamente a qualidade de vida do indivíduo. Elas vão desde um desgaste articular, até o pré-diabetes e a dislipidemia [alteração dos níveis de colesterol], sendo estes últimos capazes de implicar em um maior risco cardiovascular”.
No caso das mulheres, Yallana acrescenta ainda que existem dois fatores adicionais que podem contribuir para o sobrepeso e, consequentemente, a obesidade: gestação e menopausa. “Ambas são fases onde ela [a mulher] passa por mudanças hormonais muito importantes, as quais refletem em alterações metabólicas, psíquicas e emocionais e podem, inclusive, alterar o padrão de alimentação. São cenários comuns que, se não forem bem administrados com a ajuda de um especialista, podem desencadear os quadros de sobrepeso e/ou obesidade”. A médica reforça que as gestantes nessa situação, têm uma gravidez mais delicada e que pode ser de alto risco. “Elas podem cursar com aumento dos níveis de pressão arterial, tendo risco de evoluir para pré-eclâmpsia ou diabetes gestacional, por exemplo. Ambos os quadros são uma ameaça tanto para a saúde do bebê como para a da mãe, principalmente quando chegam a induzir um parto prematuro, situação em que a gestação deve ser interrompida antes do tempo ideal”, destaca.
Prevenção e tratamento
Para ajudar as mulheres a prevenir o sobrepeso, algumas dicas, segundo a Yallana são importantes. Uma das práticas mais utilizadas é o cálculo do Índice de Massa Corpórea, o IMC. Basta dividir o peso pela altura elevada ao quadrado. Se a paciente tem 1,70 metro e pesa 75kg, fará o seguinte cálculo: 75/ (1,70 X 1,70). O resultado, nesse caso, 25,95kg/ m², indica que ela está com sobrepeso, já que a condição é caracterizada por IMC entre 25 e 29,9.
A especialista ressalta, porém, que o cálculo não é o único método que deve ser levado em consideração. “Ele [IMC] é um marcador mais usado para avaliar o peso de uma população, ou seja, um grande número de pessoas e não o indivíduo. Nos casos de avaliação individual, o ideal é checar, por exemplo, a somatória das dobras cutâneas ou realizar uma bioimpedância, exame que indica a quantidade de água, massa muscular, massa gorda e gordura visceral, além da densidade óssea e taxa de metabolismo basal – comumente realizado pelo médico nutrólogo. Desse modo, será possível distinguir, com precisão, a composição corporal do paciente”, explica.
Para deixar a questão ainda mais clara, a nutróloga do Hospital Semper ilustra com o caso de um fisioculturista, que, segundo ela, facilmente, tem IMC acima de 30, o que não necessariamente significa excesso de gordura corporal, já que por ser muito musculoso, o músculo acaba pesando mais que gordura. “Logo, se eu for considerar para ele somente IMC, vou imediatamente indicar o tratamento para obesidade, mas se faço uma avaliação física/corporal completa, percebo que há, neste indivíduo, um excesso de músculo em detrimento da quantidade de gordura corporal, o que é um quadro bastante benéfico, já que o atleta em questão terá menor depósito de gordura visceral, melhor produção hormonal, além de índices de insulina e glicose mais baixos. Isso significa proteção cardiovascular e aumento da sobrevida, quando comparado ao indivíduo obeso”.
Já quando o assunto é tratamento, a especialista reforça a importância do cuidado com o excesso de informações que, diariamente, chegam até nós sobre o tema. “Informação é sempre bem-vinda, mas ao mesmo tempo há muitas inverdades na mídia, como propagandas disfarçadas de conteúdo que camuflam o interesse real das marcas em apenas vender produtos. Com isso, esse tipo de mensagem acaba fisgando aquelas pessoas ávidas por um resultado imediato, que na ânsia de perder peso rápido, adotam severas restrições e pioram absurdamente a qualidade da alimentação. Isso sem falar dos casos de pacientes que buscam fórmulas naturais com eficácia não comprovada e quando chegam até o médico já podem estar sofrendo por alguma complicação”.
Profissional especializado
O melhor caminho para a mulher que deseja chegar ao peso correto, segundo Yallana Arruda, é buscar um profissional especializado com olhar integrado sobre saúde feminina, suas múltiplas demandas e particularidades. “É importante ainda, e isso eu sempre aconselho minhas pacientes, estar atento ao uso de redes sociais. Sabemos que elas podem ser uma ótima ferramenta e através delas temos acesso a muita informação de qualidade, porém, ao mesmo tempo, há quem acabe se comparando a outras mulheres e criando expectativas sobre si que não condizem com a realidade. Por isso, é preciso que cada uma de nós possamos nos adequar aos nossos contextos. Um ponto chave para a mudança assertiva que previne muitas frustrações, é dar pequenos passos diários em direção ao controle do peso, sem extremismos. Alguns exemplos práticos: desça um lance de escada ao invés de usar o elevador, desembarque um ponto antes do local onde costuma saltar para chegar ao trabalho e caminhe um pouco mais. Exercitar-se mais ajuda, inclusive, a combater a ansiedade”.
A mudança de estilo de vida recomendada por Yallana inclui ainda evitar alimentos ricos em açúcar, gordura e sal, como os alimentos ultraprocessados (industrializados), e optar por alternativas mais naturais, como frutas, verduras, legumes e proteínas magras, além da ingestão de pelo menos dois litros de água por dia. “Com pequenas readequações no dia a dia, é possível prevenir e tratar o excesso de peso e, assim, melhorar a saúde e o bem-estar. Se movimentar, dormir bem e se hidratar são tão importantes quanto as mudanças alimentares no gerenciamento do peso”.
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