Se nada for feito para frear mudanças climáticas que assombram o mundo, casos envolvendo cálculos renais devem crescer 3,9% nas próximas sete décadas; Nefrologista explica a relação entre aumento das temperaturas e incidência de pedra nos rins

Especialistas em saúde e meio ambiente já alertaram há tempos que o aquecimento global tem relação estreita com o aumento de doenças como febre amarela, Chikungunya, problemas cardíacos e até asma. Em novo relatório, pesquisadores do Hospital Infantil da Filadélfia, nos Estados Unidos, incluíram uma nova doença à lista: o cálculo renal, também conhecido como pedras nos rins. O estudo foi publicado em janeiro na revista Scientific Reports.

De acordo com os pesquisadores, se nada for feito para frear as mudanças climáticas que assombram o mundo e causam grandes desastres naturais, os casos envolvendo cálculos renais devem crescer 3,9% nas próximas sete décadas. Em um cenário onde medidas de mitigação são adotadas, o aumento é de 2,2%.

Como alguns casos da doença requerem internação e até intervenção cirúrgica, os cientistas que assinam a pesquisa também calcularam o quanto esse aumento de registros custaria ao sistema de saúde: a estimativa fica entre US$ 57 milhões a US$ 99 milhões. 

O nefrologista do Hospital Semper, Leandro Soares, explica que a relação entre aquecimento global X ocorrência de pedras nos rins acontece devido a desidratação natural que o corpo sofre ao tentar manter a temperatura adequada em dias calor excessivo. “Caso o nosso organismo tenha perda de água sem reposição, em dias muito quentes, há maior probabilidade de incidência dos cálculos renais. Por isso, a importância de se hidratar, principalmente no calor”, diz.

Ainda segundo o médico, as pedras são formadas por pequenos cristais insolúveis que normalmente já estão presentes na urina. “O aumento da concentração urinária como resultado da desidratação crônica induzida pelo calor leva à concentração de sais insolúveis e a formação de cristais na urina, o que acarreta no desenvolvimento de cálculos renais.

Leandro ressalta, porém, que os cálculos renais surgem não apenas por perda de líquidos, mas também por outros motivos. “A formação (de cálculos renais) é multifatorial, há várias causas para isso: hábitos de vida sedentários, alimentação rica em produtos industrializados e a síndrome metabólica, por exemplo, também são fatores causadores do problema. Não é porque o aquecimento global está se agravando que todos nós vamos ter pedras nos rins”, pontua.

SINTOMAS

O sintoma mais comum do cálculo renal é a forte cólica na região da lombar. “Em um dia muito quente se perde mais suor, o rim produz menos urina, logo os cristais insolúveis presentes no trato urinário acabam ficando muito concentrados, formando o cálculo. Essa pedra tende a aumentar e sua movimentação no trato urinário pode causar cólica”, explica acrescentando que essa dor não é o único indício. Náuseas, vômitos, sudorese, dor ao urinar e sangue na urina também podem estar presentes. “O quadro de cólica renal é variável, mas normalmente se apresenta dessa forma. O cálculo renal também pode ser assintomático, descoberto em exames de rotina”, destaca o nefrologista.

COMO EVITAR

Para evitar o problema de pedras nos rins, o ideal, de acordo com Leandro Soares, é manter-se hidratado corretamente, ingerindo de dois a três litros de líquidos por dia, além de praticar atividade física regular. Consumir moderadamente carnes vermelhas, juntamente com o controle de doenças metabólicas, como o diabetes, são outros caminhos da prevenção. “O sal também pode contribuir para a formação do cálculo, então é recomendado evitar o consumo exagerado de alimentos embutidos, enlatados, ultraprocessados e em conserva. Hábitos de vida saudáveis evitam essas questões”, aconselha.

PROBLEMAS A LONGO PRAZO

 Em alguns casos, o cálculo renal não tratado no tempo adequado pode obstruir o rim e levar à perda da função renal. “Alguns pacientes precisam fazer hemodiálise por conta desse problema, o que é o pior desfecho possível”, finaliza Leandro.

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