Estudos também apontam que atrasos de até um mês no tratamento são fatores de extremo risco para vida de pacientes oncológicos. Além disso, queda nos exames para detecção precoce da doença preocupa
Pesquisa recente publicada pelo The British Medical Journal, publicação periódica do Reino Unido, revela quea paralisação de um tratamento de câncer aumenta de 6% à 13% as chances de mortalidade do paciente. No Brasil, esse dado é preocupante, já que de acordo com um estudo feito pela Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, 74% dos médicos especialistas da área tiveram pacientes com as terapias adiadas ou paralisadas em mais de um mês durante o primeiro semestre de 2020, período que coincidiu com a chegada da Covid-19 no país.
Para o oncologista clínico Charles Pádua, integrante do corpo clínico da Cetus Oncologia (clínica especializada em tratamentos oncológicos com sede em Betim e unidades em Belo Horizonte e Contagem) é difícil determinar um motivo específico para os atrasos existentes. “Infelizmente existem vários (motivos) que poderiam ser apontados. Um deles é o fato de que a maioria da população brasileira depende do SUS para o diagnóstico e tratamento de neoplasias, o que acaba dificultando o acesso em tempo hábil para tratar a doença precocemente”, afirma.
Ainda segundo o médico, após um período sem o tratamento adequado, alguns cuidados devem ser tomados tanto pelo paciente, quanto pelo corpo médico que o atende. Existem certos riscos, e, nesse sentido, é de extrema importância uma avaliação correta e minuciosa da situação em que se encontra o enfermo. “A retomada de tratamento passará necessariamente por uma avaliação criteriosa para entender se o câncer encontra-se no mesmo estágio inicial observado no diagnóstico. Só assim será possível nortear o rumo das terapias, afinal é preciso saber se elas ainda surtirão o efeito esperado”, explica acrescentando que cada caso deve ser avaliado individualmente.
Queda nos exames de detecção
Outro dado que chama atenção é do Instituto Oncoguia. De acordo com a entidade, os exames utilizados para a detecção precoce do câncer tiveram enorme queda em 2020. As biópsias, por exemplo, caíram pela metade de março a setembro. No SUS (Sistema Único de Saúde), o número de pacientes oncológicos que iniciaram o tratamento diminuiu cerca de 30% em relação ao mesmo período de 2019. “Observamos um retardo no diagnóstico de vários tipos de cânceres devido ao temor da população em sair de casa e se contaminar pela Covid, principalmente no início da pandemia, quando ainda pouco se sabia sobre o vírus.”, explica o oncologista.
Além da queda dos exames de detecção, outras situações relacionadas ao câncer surgiram no contexto de pandemia, desde a paralisação de procedimentos cirúrgicos até o próprio aumento de diagnósticos oncológicos. “Muitas cirurgias foram canceladas, dentre elas as oncológicas. Uma exceção digna de nota foi o aumento do diagnóstico do câncer de pulmão atribuído a realização de tomografias voltadas para rastreamento da Covid e que acabaram revelando lesões pulmonares neoplásicas”, acrescenta Charles.
Por isso, no Dia Mundial de Luta Contra o Câncer, é relevante ressaltar a importância do diagnóstico precoce e também do tratamento correto e sem paralisações. “Uma vez diagnosticado, seguir todas as etapas necessárias para tratar é o padrão que poderá impactar na cura, quando possível e, no alívio de sintomas quando este for o objetivo. Todas as unidades de saúde que tratam de câncer estão devidamente organizadas para oferecer seus tratamentos sem aumentar o risco de infecção pelo coronavírus, mesmo para aqueles que possuem alguma comorbidade”, finaliza o oncologista da Cetus Oncologia.
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